Por Alan Caldas – Editor)
Ser pai é maravilhoso. Mas não é simples, porque é a mais complexa experiência que um homem pode ter.
É uma experiência física desgastante e que, para ser bem exercida, requer força e exige energia e determinação sem fim.
Ser pai também é uma experiência psíquica fantástica que te faz testar limites intelectuais e humanos o tempo todo.
E é igualmente uma experiência de fé. Ser pai é viver pela fé, porque do embrião ao crescimento é preciso conviver com certezas incertas, desconhecendo o dia de amanhã ou a hora seguinte, e só a fé real e concreta, a fé cega, como se diz, conseguirá te fazer perseverar e sorrir quando começares a entender que o serzinho que trouxeste ao mundo poderá acabar logo ali, acometido de uma doença qualquer.
Quantos pais e mães com o bebê dormindo no colo já não chacoalharam a criança para ver se realmente estava dormindo e não morta?
Pode rir. É assim mesmo. Acontece várias vezes.
O desgaste físico não se compara com a energia “adulta”, sábia e comedida que se precisa ter quando a criança cresce. É aí que se descobre aquele “check point” intelectual que te leva a ter de tomar uma decisão inteligente entre a autoridade de pai ou a amizade que se deve ter com o filho.
Não é tranquilo impor limite e, ao mesmo tempo, transformar isso em confiança e cumplicidade.
Filho quando começa a pensar (e não tem jeito, eles começam a pensar) quer permissão para tudo. E porque nem tudo é permitido, ele logo faz uma “leitura” do que seja o pai e conclui, erroneamente, as vezes, que tu, o pai, só pensas em proibir tudo. E tu, o pai, pensa que ele só quer é permissão para tudo, mesmo para o que a teu ver está errado.
É sério isso. E segue em flagrância os debates acirrados entre ele e tu e tu e tu mesmo, na indecisa decisão de se proíbe ou se libera. Se libera, pode se expor a riscos, tu pensas. Se proíbe, ele fica furioso contigo, tu pensas.
E agora? O que fazer?
Ser pai não é simples. E o mais difícil é encontrar uma forma agradável e delicada de exercer a autoridade necessária, porém distanciada o suficiente para que o filho aprenda contigo mas muito mais aprenda com ele mesmo, que é a pedagogia paterna.
É nessas horas que os ruídos começam, com cobranças e acusações que parecem empalidecer a vontade de ser amado por ele e a dele de ser amado por ti. E ser amado e amar é tudo, entre pais e filhos.
Nos filhos pequenos, muitas vezes a irritação, inquietação e desatenção que vemos é apenas um grito deles nos dizendo:
– Poderia me amar como eu sou, senhor Alanzito?
A rebeldia do adolescente não passa de um pedido:
– Poderia me amar como eu sou, carinha chato?
Ser pai é complexo porque se tende a achar que se está fazendo uma leitura errada do que os filhos querem e eles fazendo uma leitura errada do que nós, pais, queremos.
A questão crucial é que cada pessoa interpreta os fatos de acordo com suas experiências, e essa interpretação é o que nos faz definir o que julgamos ser a verdade e desejo do outro. Mas quase nunca é isso, entre pais e filhos, porque ambos têm suas experiências e desejos, e, portanto, têm suas próprias verdades.
Ser pai é achar uma verdade intermediária entre pai e filho, coisa possível na teoria mas na prática quase impossível.
Fora tudo isso, tem o tempo. O ranzinza do tempo! E mesmo que tempo seja opção, muitas vezes, diante do trabalho, não se tem como optar por mais tempo para os filhos se isso significar menos trabalho e renda, que é de onde vem a qualidade de vida que damos aos filhos.
Não bastasse tudo isso, temos, agora, a tecnologia dividindo uns e outros no tempo nascido. E o estresse das emoções sobem, colocando em risco o amar-nos um ao outro.
Não existe regra pronta ou fórmula exata para resolver a equação de ser pai versus ser filho. Não tem verdade absoluta, porque tudo na vida muda o tempo todo. Mas, se vale uma sugestão de pai que se preocupa e tenta desesperadamente acertar como é “ser pai”, então te sugiro: aposte tudo no elogio.
O elogio é milagroso. Descobri isso sendo pai. Elogio constrói uma sinergia entre pai e filho que é capaz de superar qualquer conflito. E elogio com humildade e sinceridade de quem elogia, tem um efeito de ressuscitar relações. Elogio sincero de pai para filho e vice-versa, permite que a vida de entendimento e amor que se esvaiu no dia a dia das discussões renasça e floresça, desabrochando como flores na Primavera.
O fato é que ensinar limites, estabelecer regras claras, dar apenas exemplos bons, avaliar quem é boa e quem é má amizade, mostrar companheirismo mesmo quando não é solicitado, mostrar que respeito é bom e todos merecem, educar para debates sem gritos e sem choros, ensinar a ser forte e equilibrado diante de fatos desconcertantes que (sempre) ocorrem na vida, mostrar que irmão é irmão e não capacho e que precisa ser amado como a si mesmo, ensinar as consequências de todo e qualquer ato que se tenha na vida e educar para ter atitude, tudo isso é dever do pai, responsabilidade do pai. E é sempre bom deixar bem claro que sou o melhor amigo, sou aquele que pularia na frente deles para levar a bala no lugar deles, protegendo-os, mas antes disso sou o pai, e aquilo que amigo aceita pai nem sempre pode aceitar, porque pai, diferente do amigo, tem de educar para a vida.
Não sei como encerrar este artigo, porque ser pai não tem fim. Mas ser pai, para mim, é mais ou menos assim: é tu te preocupares com o filho a tua vida inteira e ainda torcer para ter a sorte de que ele um dia te enterre. Porque o contrário disso, meu amigo, é tudo que infelicidade completa significa. . .
(Artigo originalmente publicado no Jornal Dois Irmãos)